A técnica consagrada
para fotos planetárias consiste em acoplar uma câmera planetária (de vídeo) pequena
e geralmente barata a um telescópio de
boa abertura (aberturas a partir de 6 polegadas (150mm), no sistema imperial,
costumam produzir bons resultados).Tais câmeras planetárias foram uma evolução
das webcams antigas que foram adaptadas por alguns pioneiros para tal fim.
Assim toma-se primeiro alguns vídeos com 2000 a 3000 frames. Em seguida, cada vídeo é processado em programas que alinham e empilham
os frames melhorando a razão sinal/ruído. Registax é um clássico que pode ser
utilizado juntamente com o Autostakkert, ambos programas gratuitos
desenvolvidos por aficcionados para aficcionados. O processamento final pode ser feito em
vários programas, no próprio Registax ou Photoshop, para ficar em alguns
exemplos. É bastante interessante que o telescópio esteja sobre uma montagem
motorizada. Alguns bravos, entretanto, conseguem alguns resultados interessantes
sobre montagem manual. O método do alinhamento e empilhamento é útil quando o
acompanhamento da rotação da Terra é menos que perfeito e permite também a
escolha dos melhores frames, descartando aqueles que são prejudicados pela
turbulência atmosférica.
Como é sabido, duas
variáveis atmosféricas são as principais para a imagem astronômica, especialmente planetária:
transparência e “seeing”. O déficit em qualquer dessas variáveis prejudica a
imagem. Uma comparação ajuda a explicar. Imaginemos um vaso com águas calmas,
mas com grande quantidade de partículas suspensas – baixa transparência.
Teremos alguma dificuldade de enxergar uma moeda no fundo do vaso. Agora,
imaginemos o mesmo vaso com águas cristalinas, mas que esteja fortemente
agitada –“seeing” ruim. Nesse caso, também teremos uma imagem ruim,
principalmente com distorção da forma, parecendo que o planeta está dentro de
um grande vaso de água fervendo. É importante para o astrônomo aprender o
máximo que puder sobre a atmosfera – a pior inimiga do astrônomo (esta é a
razão dos telescópios espaciais). Para imagem de planetas, o déficit do
“seeing” é o pior inimigo, pois em altíssimas magnificações, características
das imagens planetárias, a turbulência também é magnificada. Quanto ao déficit
de transparência, principalmente se for constante, pode em alguma medida ser
compensado pelo aumento no ganho da câmera.
Na foto abaixo de
Júpiter, fotografei o que chamei de lados A e B, o lado da grande mancha
vermelha (GMV) e o lado oposto, respectivamente. Além das características
faixas equatoriais e temperadas que parecem formar tranças, outras
características merecem destaque. Abaixo e a direita da GMV, está uma segunda
mancha que já foi rosada e agora está praticamente branca, chamada oval BA. Há
também pequenas manchas ovais nas regiões polares de difícil visualização na
ocular do telescópio. A foto do lado A foi feita em 2020 (o lado B é de 2023)
quando havia espetaculares outbreaks azuis acima da faixa equatorial norte,
fenômenos da atmosfera não completamente compreendidos. Entre as faixas
equatoriais, a observação atenta pode revelar os “festoons”, penachos azuis de
baixo contraste em relação ao entorno. Quando os “festoons” estão claramente
visíveis podemos em geral inferir que o “seeing” está bom, havendo maiores
chances de boa fotografia. Adicionalmente, na foto do lado A, o satélite Europa
inicia o seu trânsito sobre Júpiter. No lado B, destaco apenas as curiosas
manchas de vermelho intenso na faixa equatorial sul e norte. Sempre utilizando
a câmera ASI 290, o lado A foi tomado com Schimidt-Cassegrain Celestron 11 e o
lado B com Schmidt aplanático Celestron 11.