quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Fotos planetárias: como fazer?


A técnica consagrada para fotos planetárias consiste em acoplar uma câmera planetária (de vídeo) pequena e geralmente barata  a um telescópio de boa abertura (aberturas a partir de 6 polegadas (150mm), no sistema imperial, costumam produzir bons resultados).Tais câmeras planetárias foram uma evolução das webcams antigas que foram adaptadas por alguns pioneiros para tal fim. Assim toma-se primeiro alguns vídeos com 2000 a 3000 frames. Em seguida, cada vídeo é processado em programas que alinham e empilham os frames melhorando a razão sinal/ruído. Registax é um clássico que pode ser utilizado juntamente com o Autostakkert, ambos programas gratuitos desenvolvidos por aficcionados para aficcionados.  O processamento final pode ser feito em vários programas, no próprio Registax ou Photoshop, para ficar em alguns exemplos. É bastante interessante que o telescópio esteja sobre uma montagem motorizada. Alguns bravos, entretanto, conseguem alguns resultados interessantes sobre montagem manual. O método do alinhamento e empilhamento é útil quando o acompanhamento da rotação da Terra é menos que perfeito e permite também a escolha dos melhores frames, descartando aqueles que são prejudicados pela turbulência atmosférica. 

Como é sabido, duas variáveis atmosféricas são as principais para a imagem  astronômica, especialmente planetária: transparência e “seeing”. O déficit em qualquer dessas variáveis prejudica a imagem. Uma comparação ajuda a explicar. Imaginemos um vaso com águas calmas, mas com grande quantidade de partículas suspensas – baixa transparência. Teremos alguma dificuldade de enxergar uma moeda no fundo do vaso. Agora, imaginemos o mesmo vaso com águas cristalinas, mas que esteja fortemente agitada –“seeing” ruim. Nesse caso, também teremos uma imagem ruim, principalmente com distorção da forma, parecendo que o planeta está dentro de um grande vaso de água fervendo. É importante para o astrônomo aprender o máximo que puder sobre a atmosfera – a pior inimiga do astrônomo (esta é a razão dos telescópios espaciais). Para imagem de planetas, o déficit do “seeing” é o pior inimigo, pois em altíssimas magnificações, características das imagens planetárias, a turbulência também é magnificada. Quanto ao déficit de transparência, principalmente se for constante, pode em alguma medida ser compensado pelo aumento no ganho da câmera.

Na foto abaixo de Júpiter, fotografei o que chamei de lados A e B, o lado da grande mancha vermelha (GMV) e o lado oposto, respectivamente. Além das características faixas equatoriais e temperadas que parecem formar tranças, outras características merecem destaque. Abaixo e a direita da GMV, está uma segunda mancha que já foi rosada e agora está praticamente branca, chamada oval BA. Há também pequenas manchas ovais nas regiões polares de difícil visualização na ocular do telescópio. A foto do lado A foi feita em 2020 (o lado B é de 2023) quando havia espetaculares outbreaks azuis acima da faixa equatorial norte, fenômenos da atmosfera não completamente compreendidos. Entre as faixas equatoriais, a observação atenta pode revelar os “festoons”, penachos azuis de baixo contraste em relação ao entorno. Quando os “festoons” estão claramente visíveis podemos em geral inferir que o “seeing” está bom, havendo maiores chances de boa fotografia. Adicionalmente, na foto do lado A, o satélite Europa inicia o seu trânsito sobre Júpiter. No lado B, destaco apenas as curiosas manchas de vermelho intenso na faixa equatorial sul e norte. Sempre utilizando a câmera ASI 290, o lado A foi tomado com Schimidt-Cassegrain Celestron 11 e o lado B com Schmidt aplanático Celestron 11.      

A câmera: ASI 290mc




C11, também chamado de Seu Ratão.