Esta página tem o objetivo de estimular a astronomia amadora e o uso do telescópio. É dirigida a crianças, jovens e adultos curiosos.
PÁGINAS INFORMATIVAS
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023
quinta-feira, 19 de janeiro de 2023
Nikon 10 x 70 Astroluxe x Celestron Skymaster Pro 20 x 80: breve review com um pequeno guia para binóculos
Em
edição
Introdução
Astronomia com binóculos?
Sim, quase todos os astrônomos praticam ou já praticaram. As vantagens com
relação a telescópios são: 1) maior campo quando comparado com a maioria dos
telescópios; com campos que geralmente vão de 3º a 7º, os binóculos são
excelentes instrumentos de busca e aprendizado sobre o céu; 2) visão estereoscópica
com tridimensionalidade e imagem com maior contraste (céu mais escuro); 3) maior
compatibilidade com a fisiologia da visão humana; 4) mais informalidade devido
a menor preparação necessária. Todo astrônomo conhece a desventura de colocar
60 kg de equipamento para fora, tendo que assistir o céu nublar e a perspectiva
de colocar tudo para dentro novamente.
A
Pupila
A pupila jovem dilata
7mm (pode ser um pouco mais), permitindo a plena iluminação da retina (também
7mm). A partir dos 30 anos, perde-se 1mm a cada década o que leva um adulto de
50 anos, por exemplo, a ter algo como 5mm de dilatação. Para instrumentos
óticos que operam em condições críticas de iluminação e luminosidade (telescópios
e binóculos no âmbito astronômico), um parâmetro importante é a saída de pupila
(pupil exit). A saída de pupila é a seção reta do cone de luz que sai da ocular
quando o olho está posicionado para ver todo o campo (ver foto). O seu cálculo geralmente
é feito a partir da razão entre a abertura do instrumento em milímetros pela
ampliação em dada configuração. Nos binóculos de aumento fixo, simplesmente
dividimos o número da abertura pelo aumento. Assim, em um binóculo 10 x
50, a saída de pupila é de 5mm. A
distância que precisamos colocar os olhos para enxergarmos o campo em sua
inteireza é o conforto ocular (eye relief). O eye relief maior possibilita uma observação com menor stress do
olho. Além disso, um eye relief longo
possibilita a observação com óculos. Não recomendo.
Os
Números de um Binóculo
Segundo
convenção universal (ou quase), os binóculos têm gravados os número M x D que
denotam respectivamente magnificação versus diâmetro ou abertura em milímetros.
Assim, temos binóculos típicos de 8 x 42, 10 x 50, 15 x 70, 20 x 80, 25 x 100,
etc. (não estou tratando de binóculos de aumento variável ou zoom). Como já
dito acima, nos binóculos, basta dividir a abertura ou diâmetro pelo aumento
para sabermos quanto aproveitamento teremos em saída de luz – saída de pupila.
Quanto à entrada de
luz, ela é proporcional ao quadrado do diâmetro (ou raio) da objetiva do
binóculo, já que varia com a superfície (lembrar que a área da circunferência é
πr2 ). Se quisermos saber, por exemplo, quanto um binóculo com 80mm
de abertura capta a mais de luz do que um binóculo de 70mm, procedemos da
seguinte forma. A diferença das áreas é (80)2 – (70)2 =
6400 – 4900 = 1500. Dividimos 1500 por 4900, resultando em 0,30. O binóculo com
abertura de 80mm capta 30% a mais de luz
do que o de 70mm. Veja a diferença que 10mm fazem neste exemplo específico. Já
para calcularmos a quantidade de luz que um binóculo capta em relação ao olho
humano basta dividir o quadrado da abertura por 49. Este número representa o
quadrado do diâmetro aproximado da retina que é de 7mm (sei que a retina não é
um disco); estimado por William Herschel no século 18. Assim, um binóculo de
70mm capta 100 vezes mais luz do que o olho humano (4900 ÷ 49).
Quando se vai analisar
um binóculo, devemos atentar para abertura, aumento, saída de pupila, eye relief, campo, contraste,
aberrações, ergonomia cuja parte importante é o peso. A ergonomia e o peso
especificamente ajudarão a determinar o tremor das mãos, fator limitante na
observação com binóculos. Já o aumento ajudará a determinar, entre outras
coisas, o efeito do tremor das mãos. O mesmo tremor de mãos será muito mais prejudicial
em um binóculo com 20 vezes de aumento do que em binóculo com 10 vezes de
aumento. Se tivermos mais aumento, teremos mais movimento angular. No momento, não
estamos considerando os binóculos eletronicamente estabilizados como Canon, nem
o uso de tripé fotográfico para montar os binóculos.
A
Comparação
Nikon 10 x 70 Astroluxe Celestron Skymaster Pro 20 x 80
Especificações
das fábricas
Magnification: 10x
20 x
Objective
Lens Diameter: 70 mm
80mm
Angle
of View: 5.1° 3,2o
Exit
Pupil Diameter: 7 mm
4mm
Eye
Relief: 16.3 mm
15,5mm
Focus
Type: Individual center
Weight: 2.0 kg 2,4 Kg
Waterproof e Fogproof Waterproof e Fogproof
Ergonomia
Apesar do Celestron Skymaster
ser apenas 20% mais pesado do que o
Nikon (2400 kg contra 2000 kg), este é notavelmente mais facial de empunhar. O
centro de massa do Celestron fica no último terço do corpo, próximo das
objetivas. Sendo o corpo um tronco de cone, a extremidade próxima da objetiva
tem uma circunferência grande o que dificulta o envolvimento com as mãos. O Nikon,
por outro lado, tem centro de massa próximo ao centro do corpo com bom
envolvimento das mãos. Lembrando ainda que, com apenas 10x de aumento, o Nikon
minimiza os efeitos dos tremores das mãos como notado acima. No geral, a empunhadura do Nikon é
surpreendentemente amigável. Não obstante, contraí algumas dores no peitoral e
no ombro no uso prolongado. Para a maioria das mulheres, o uso de qualquer
destes dois binóculos fora de um tripé fotográfico seria difícil. Binóculos com
configurações 8 x 42, 10 x 50, 12 x 60 são mais recomendáveis.
Ótica
e Mecânica
Quanto à ótica, como
era de se esperar para um binóculo topo de linha, o Nikon leva vantagem. Um
pouco menos de aberração cromática (mas não inexistente), imagem nas bordas
melhor definidas em relação ao Celestron Skymaster. O que chama mais atenção,
entretanto, é a uniformidade de iluminação do campo no Nikon. No Celestron
Skymaster e em tantos outros binóculos cerca de 20% do campo sofre de um tipo
de vinheta que compromete a imagem. O Nikon tem a imagem uniforme, provavelmente
devido aos prismas oversized que
podem ser vistos pelo tamanho da caixa de prismas e também olhando através das
objetivas. O resultado é uma imagem “limpa” em todo o campo, parecendo uma
simulação de imagem binocular como encontrada em livros.
Quanto ao desempenho
global, devemos lembrar que o Celestron 20 x 80 com 30% a mais de captação de
luz e 2 vezes a magnificação impõe uma clara derrota ao Nikon no quesito de
resolução – a capacidade de separação
angular entre duas feições que permite a percepção de mais detalhes. A maior
resolução nem sempre, entretanto, implica em uma imagem com maior qualidade
estética. Em objetos luminosos, como as Plêiades, a imagem fornecida pelo Nikon
é mais satisfatória globalmente. Como alguns astrônomos amadores sabem, o grau
de satisfação de uma imagem astronômica é uma função complexa de dois grandes fatores:
estético e informacional. Por exemplo, a observação de aglomerados abertos em
alta resolução traz muita informação, mas o fato de nestes casos, em geral,
deixar pouca moldura de céu em volta do objeto pode tornar a observação em menor
resolução mais atraente. Ainda o Nikon com seu grande campo de 5º permite um
ótimo acesso aos objetos do menos conhecido catálogo Collinder, em geral
aglomerados abertos de grande tamanho angular que são difíceis para telescópios
e binóculos de pequeno campo.
O Nikon tem um ótimo
aproveitamento da luz, sobretudo para as pupilas jovens capazes de dilatar 7mm.
Deve ser lembrado, contudo, que para a observação terrestre, em que muitas
vezes a pupila dilata apenas 2-3mm, não é muito relevante termos tamanha saída
de pupila. Também devemos nos guardar de tirar conclusões erradas da comparação
das saídas de pupila dos dois binóculos aqui confrontados. Embora com
aproveitamento menor da luz que entra na objetiva, o Celestron Skymaster ainda
capta 30% a mais de luz do que o Nikon, implicando que o Skymaster ainda entrega
muita luz no final. A maior saída de pupila é melhor apenas ceteris paribus. Assim, um binóculo 10 x
70 entrega mais luz que um binóculo 20
x 70 (ceteris paribus).
Mecanicamente, os dois binóculos
são excelentes, tendo o Celestron o sistema de foco central comum à maioria dos
binóculos de entrada e o Nikon apresentando o sistema de foco individual como
em muitos binóculos de final de linha. Eu tinha algum temor sobre segurar um binóculo
de 2kgs com uma das mãos para focalizar cada ocular separadamente, mas a
realidade mostrou-se menos problemática. O Nikon tem números gravados dos lados
esquerdo e direito e logo foi possível achar 3 pares de números que dão foco
perfeito para perto, longe e muito longe (foco astronômico). Embora o
focalizador helicoidal deslize continuamente o foco não se altera continuamente,
tendo 3 pontos fixos determinados. Outro beneficio do Nikon é que mesmo
ajustado para perto, por exemplo, ele ainda fica praticamente focalizado para
longe – o sistema é menos sensível a diferença de distância dos objetos.
Uma observação final
quanto ao acabamento. O Nikon é um old
style com couro ou assemelhado que dá grande aderência e conforto na
empunhadura. O old style surpreende
inicialmente, mas basta 30 segundos para aderirmos a ele.
Conclusão
O Nikon 10 x 70 é
provavelmente o maior binóculo que ainda se pode observar confortavelmente
segurando nas mãos, com imagem excelente e sendo altamente recomendado para a
astronomia. Aguardando ainda a observação dos aglomerados dos Sul e a o teste
em dark sky, quando farei um adendo. O
Celestron Skymaster 20 x 80 é uma opção mais econômica, com ótimo custo
benefício, podendo alcançar alguns objetos difíceis para o Nikon. Precisa,
entretanto, de ser usado em um tripé fotográfico para seu pleno aproveitamento,
perdendo um pouco daquela informalidade que dá aos binóculos aquele caráter complementar
em relação aos telescópios. Ambos os binóculos possuem como extras winged cups (ver foto) para bloquear
luzes parasitas que vêm por trás do observador. O Celestron Skymaster possui
ainda suporte integrado para tripé e suporte para red dot finder que pode ser útil para o assestamento. Os dois binóculos são preenchidos com nitrogênio o
que evita condensação interna.
Pelo mundo afora,
recomendo algumas lojas onde temos muitas opções de binóculos. Na Alemanha,
Teleskop Service (arredores de Munique), em NY, B&H PHOTO, na Alemanha com
marca própria, APM Telescopes (próximo a Stuttgart). No Brasil, o colecionador
e vendedor Ronaldo Vasconcellos (de quem adquiri o Nikon usado) tem um ótimo
acervo de usados.
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quarta-feira, 17 de novembro de 2021
segunda-feira, 15 de novembro de 2021
Vênus e suas fases: um padrão que ajudou a estabelecer o copernicanismo
Brevíssima história. Em 1543, Copérnico recebeu em seu leito de morte a sua obra magna “Das Revoluções dos Mundos Celestes”. Apenas um breve comentário sobre a teoria havia circulado pelas mãos de seu discípulo Rheticus. A partir daí, foram necessários cerca de 150 anos para o pleno estabelecimento do sistema copernicano (heliocêntrico). Pesavam contra o copernicanismo 3 argumentos. Em primeiro lugar, a ausência da paralaxe das estrelas “próximas” contra o fundo das estrelas mais “distantes”, uma vez que a translação da Terra deveria levar a um deslocamento aparente das estrelas. Em segundo, o argumento da torre que dava como absurdo o fato de que, em havendo a rotação da Terra, uma pedra lançada do alto de uma torre caísse em seu pé. Finalmente, o padrão das fases de Vênus deveria ser diferente, conforme o sistema fosse geocêntrico ou heliocêntrico (para este padrão vide o artigo do prof. Fernando Lang em https://cref.if.ufrgs.br/?contact-pergunta=visibilidade-dos-planetas-e-as-fases-de-venus). Com o surgimento de Galileu e outros personagens, gradualmente, os contra-argumentos foram superados. A paralaxe das estrelas de fato existia, mas era cerca de 40 vezes menor do que se supunha (devido a uma suposição errônea sobre as distâncias estelares). Telescópios de maior abertura foram necessários para medir tal paralaxe. O argumento da torre foi respondido pelo princípio de inércia já presente na obra de Galileu. O padrão das fases de Vênus aguardou também observações mais acuradas feitas pelo telescópio e contribuíram para a consolidação do copernicanismo [texto próprio]. Foto tomada com William Optics Z 151, ASI 290, Powermate 2,5. |