Telescópio Urbano
Esta página tem o objetivo de estimular a astronomia amadora e o uso do telescópio. É dirigida a crianças, jovens e adultos curiosos.
PÁGINAS INFORMATIVAS
quarta-feira, 7 de maio de 2025
sexta-feira, 2 de maio de 2025
quarta-feira, 30 de abril de 2025
Manchas solares: história e técnica (em construção).
Dentre os muitos abalos produzidos na cosmologia aristotélica por Galileu, o tema das manchas solares é bastante interessante e talvez menos conhecido. Observadas por vários astrônomos, com destaque para Galileu e o padre alemão Scheiner, principalmente entre os anos de 1611 e 1613, constituíam, prima facie, um desafio à imutabilidade do Céu (mundo supralunar) teorizada por Aristóteles. Scheiner, um aristotélico, querendo salvar a teoria, com sua distinção entre Céu e Terra, avançou a tese de que as supostas manchas eram ilusões causadas por pequenos planetas ainda desconhecidos que transitariam o Sol ao modo do que hoje conhecemos como os trânsitos de Vênus e Mercúrio. Tais corpos convergiriam e divergiriam em frente ao Sol levando a conclusão errônea de serem manchas no corpo solar que surgiriam e se dissolveriam. Para além da amarga disputa com Scheiner sobre a prioridade das observações das “manchas”, Galileu propôs que de fato estavam sobre o corpo solar, representando uma alteração no mundo supralunar de Aristóteles. Dos muito argumentos de Galileu, baseados em minuciosas observações pelo recém introduzido Spyglass no âmbito astronômico (debutando como telescópio), está o argumento tomado da perspectiva, observando que as manchas se mostravam mais estreitas quando se aproximavam do limbo solar em relação ao seu tamanho mais ao centro do disco solar. Há mesmo uma bronca que Galileu dá nos “Dois Máximos Sistemas do Mundo”, dizendo que qualquer um que conhece perspectiva sabe que corpos esféricos não sofreriam este encurtamento. Galileu argumenta que as manchas, quando viajam em direção ao limbo solar, têm o seu comprimento encurtado, típico de figuras planas quando são vistas de forma oblíqua. Já a forma esférica não sofre encurtamento qualquer que seja o ângulo de visada. Salviati diz: “pois entre todas as figuras só a esfera nunca é vista encurtada, nem pode representar-se a não ser perfeitamente redonda” (p.139). A Geometria (e perspectiva) é então a chave para o argumento. O que está em jogo é a própria observação e a capacidade para ver em perspectiva que Galileu possuía acima de vários outros (talvez todos) astrônomos da época. Segundo David Wootton, por exemplo, Thomas Harriot, que provavelmente observou a lua antes de Galileu, não conseguiu entender realmente o que estava vendo (montanhas e crateras) porque não tinha o treino deste em perspectiva, adquirido pela visitação das galerias de arte italianas (Wootton (2015): 211 e ss.) e do seu próprio treinamento artístico. Então as “manchas” eram de fato manchas, mudanças no corpo solar; ponto contra Aristóteles.
Abaixo,
algumas fotos que fiz do meu observatório astronômico para ajudar a entender a
questão.
Figura 1 e 2. Duas tomadas de minha autoria, com ampliações diferentes, da mesma região ativa do Sol AR3780 em 5 de agosto de 2024.
Figura 3 e 4. Meu setup para observação e fotografia solar e ao lado o setup de Scheiner para o método de projeção.
Há duas
maneiras extremamente seguras de observar e fotografar o Sol: com um filtro na
frente da objetiva ou projetando o Sol em um anteparo como ilustrado por
Scheiner e também seguido por Galileu em certo momento. Filtros de vídeo verde,
para serem rosqueados na ocular como já foram vendidos, podem trincar e são
perigosos. Eu uso um filtro de filme Baader, nd 5.0 para observar e 3.8 para
fotografar, na frente da objetiva (figura 3). Nunca observe o Sol sem proteção especializada; o resultado é cegueira
irreversível.
As
manchas solares são visíveis na camada solar, chamada de fotosfera, e são
captadas em luz branca, facilmente acessível e a um custo baixo em termos de
equipamento. Elas ocorrem onde há irrupção do campo magnético do Sol. Onde o
campo magnético irrompe, o processo de convecção do plasma solar é atenuado e a
temperatura cai. Assim, as manchas são mais escuras do que o entorno devido a
menor temperatura.
Galileu, em minuciosas observações conduzidas entre os anos 1611 e 1613 (e além) descobriu também a rotação do Sol que se dá em um período médio de 30 dias. Hoje sabemos que as manchas tem um ciclo de aproximadamente 11 anos, atingindo máximos e mínimos. Estamos presentemente no pico do ciclo 25, desde que começou a ser contado no século 19.
Figura 5 e 6. Desenho de Galileu das manchas solares e foto de minha autoria da grande mancha AR 3780 em 10 de agosto de 2024.
Vale a pena ler:
Figura 7. As “Cartas Solares” que contém 3 cartas de Scheiner e 3 cartas de Galileu, mediadas pelo banqueiro Marc Welser, que constituiram a polêmica sobre as manchas solares. E o “Diálogo” que valeu a condenação de Galileu em 1633.
Próxima seção: o Sol em banda de hidrogênio alfa (quando tiver tempo).
domingo, 20 de abril de 2025
sexta-feira, 28 de março de 2025
Foto com menção honrosa no concurso da William Optics em Taiwan